FILOSÓRFICO

sábado, janeiro 26, 2008

MEUS PRINCIPAIS ENDEREÇOS

Há muito tempo que só acidentalmente uso o presente blogue, pelo que se encontra desactualizado. Por favor, passe a entrar doravante nos seguintes endereços:

Para o blogue propriamente dito:


Para o álbum dos desenhos (59 )
http://sol.sapo.pt/photos/filosorfico/default.aspx

quarta-feira, dezembro 19, 2007

NATAL

Somos feitos de bocados
desejosos de unidade:
de virtudes e pecados,
de mentira e de verdade
- bonecos desconjuntados
no sótão da eternidade.
Um dia um Menino há-de
brincar connosco, arranjados.


FELIZ E SANTO NATAL PARATODOS OS BLOGUISTAS

quinta-feira, maio 31, 2007

O SUPOSTO "TÚMULO DE JESUS" EM CAMPANHA MEDIÁTICA,
por
P. Manuel Gonçalves, CSSp.

Atenta a extensão do texto, do maior interesse, que me foi amavelmente facultado, reproduzo-o, com as minhas desculpas, sob a forma, embora indevida, de "comentário".

domingo, maio 13, 2007

13 DE MAIO

Neste aniversário das Aparições em Fátima, duas preces, de meus falecidos pai e sogro:

SÚPLICA

Ó Mãe ! Teu doce nome é nosso guia
Neste mundo de trevas e de pranto;
É fanal rutilante que alumia
Na desventura: é terno e sacrossanto !

Não recuses as preces e a harmonia
Fervorosa do nosso humilde canto...
Escuta-nos, protege-nos, Maria !
Acolhe os filhos teus sob o Teu manto !

Ó cândida cecém, ó Virgem santa,
Sê nosso norte no revolto mar
Da vida, que alteroso se levanta...

Pelo Teu coração imaculado,
Nunca nos deixes, fracos, naufragar
No terrível abismo do pecado !

( Adriano Fernandes de Azevedo, meu pai, in “Torre de Marfim”, 1920 )

AVE-MARIA

AVE-MARIA ! E recorri contrito
CHEIA DE GRAÇA, ao dom da vossa fé.
O SENHOR É CONVOSCO. Ergue-se até
Junto de vós o nosso choro aflito
.

E BENDITA SOIS VÓS, por Deus foi dito,
ENTRE AS santas MULHERES de Nazaré.
BENDITO É O FRUTO – e incomparável é
DO VOSSO VENTRE, o bom JESUS bendito !

SANTA MARIA, MÃE DE DEUS, ROGAI
POR NÓS os PECADORES. Confortai
Os que vão desvairados e sem norte
.

Acolhei nossas súplicas AGORA
E amparai-nos solícita NA HORA
De humildade cristã DA NOSSA MORTE.


( Jayme de Sampayo – 16-7-54 )

sexta-feira, abril 27, 2007


sábado, abril 21, 2007

É DIFÍCIL NÃO TER FÉ
Por HUGO DE AZEVEDO ( colaboração solicitada )

Tornou-se já uma expressão comum a de que a Europa e, genericamente a sociedade ocidental, procura viver «como se Deus não existisse», expressão usada em vários documentos pontifícios. Isso é evidente, por exemplo, na recusa do nome de Deus nos projectos de Constituição europeia, mas sobretudo na legislação e nos costumes familiares, em que se excluem quaisquer critérios morais cristãos, como atentatórios da liberdade individual.
Também é verdade, no entanto, o contrário: os próprios ateus, ou agnósticos, vivem «como se Deus existisse». Por uma razão muito simples: não é possível a ninguém viver doutro modo.
Ainda hoje lia um artigo no qual o autor negava o carácter científico do criacionismo (e não falava só do criacionismo «americano», que nega a evolução), pela «irracionalidade» de vermos causas e efeitos em simples coincidências do acaso. Mas a ciência procede exactamente desse modo: extraindo «leis» de acontecimentos repetitivos, pelo princípio de efeito e causa, e até de «finalidade», isto é, pela certeza de que existe uma ordem racional no universo, que a nossa inteligência consegue captar, e que tudo tem um sentido, um fim, um objectivo.
Mas onde melhor se vê que é impossível (embora se «procure») viver como se Deus não existisse, é na ordem dos «valores». Se não houvesse Deus, se tudo fosse um «acaso», não haveria mal nem bem, verdade ou erro, deveres nem direitos. Quem no-los impunha? E ninguém consegue viver assim. Os mais confessos e convictos ateus e agnósticos prezam-se da sua honestidade, criticam quem procede «mal», invocam as «grandes palavras»: dignidade, justiça, solidariedade, igualdade, etc. Que sentido teria isso, se o mundo fosse «uma história de doidos contada por um idiota»? Não conseguem imaginar sequer o que seria a sua vida, se não cressem (solapadamente) em Deus! Afinal, vivem de valores «emprestados»...
O próprio «acaso» é uma noção curiosa: um acaso que fizesse um mundo tão ordenado, inteligente, grandioso, belíssimo, riquíssimo, seria um «Acaso», com maiúscula, omnipotente e sapientíssimo, isto é, seria outro nome de Deus. E, se esse «Acaso» foi capaz de gerar seres pessoais, conscientes, livres, terá de ser Ele mesmo pessoalíssimo, conscientíssimo, libérrimo. Pois nada de puramente material, químico-físico, poderia dar origem à auto-consciência que nos caracteriza e distingue da simples matéria.
Por isso, lamento imenso que muita gente pretenda enganar-se a si mesma, negando com palavras o que confessa com a vida.

A experiência diz ainda que nos países de tradição cristã, ninguém consegue viver como se Jesus Cristo não existisse. Todos esses valores que invocam (paradoxalmante) os ateus e agnósticos radicam no Evangelho. É curioso notar que o fenómeno cultural do ateísmo e do agnosticismo é um fenómeno exclusivo do Cristianismo. Foi no Ocidente cristão que ele se formulou e daqui se estendeu. A razão é simples: uma vez que se recebeu da Igreja a sua noção de Deus, já não é possível mudar para outra noção melhor. A única maneira «lógica» de nos afastarmos de Deus tal como a Igreja O apresenta é a de negarmos a própria existência de Deus; não podemos substituí-la por nenhuma outra noção mais perfeita.
Nesse artigo, lá se volta a contrapor a superioridade da ciência à visão «infantil» ou «mágica» do «povinho», como se milhões de outros «intelectuais» não albergassem idêntica aspiração e não tivessem alcançado e elaborado profundamente as verdades transcendentes que até uma criança compreende. É, de facto, irritante para muitos intelectuais que a gente «simples» tenha aspirações mais racionais, mais metafísicas, do que eles, não desistindo de perceber este mundo e a sua própria existência. A grande fraqueza de muitos «intelectuais» é precisamente a capacidade de viverem mentalmente num mundo abstracto, virtual, imaginário, inclusivamente absurdo. Mentalmente, digo, porque, na vida real, prática, procedem como toda a gente, num mundo de causas e efeitos, racional, com valores, com sentido, com finalidade, com deveres de consciência, etc. Com Deus. Porque se pode viver com fraquezas, mas não se pode viver de contradições.
E a sua fé vai ao ponto de acreditarem na «ressurreição da carne»: senão, que sentido teria o respeito pelo corpo, ainda que morto e apodrecido? Porque não atiram os cadáveres numa fossa qualquer, de preferência asséptica? Os médicos mais endurecidos tratam dos velhotes mais degradados com uns cuidados só dignos de algo sagrado... E, se esses corpos são de entes queridos, então não se diga!
Enfim, a experiência diz que anda meio mundo a fingir que não crê, embora o finja «convictamente»... até chegar a hora em que, como dizia Köestler, «o metafísico se torna real». E nessa altura, que consolo ter alguém a rezar à cabeceira! O perigo está em habituar-se tanto a viver como quem não crê, que mesmo nessa hora se continue a representar o papel escolhido na peça... que nunca se tomou a sério.
Não foi esse o caso, mas confirmava-o um conhecido intelectual, católico, da nossa praça, já em perigo de vida: - «Sabe, nós, os intelectuais, não sabemos bem o que fazer quando temos de enfrentar a realidade...»Mas a realidade acaba por se impor, queiramos ou não. E nessa altura a fé, que se julgava perdida, rebrota habitualmente, graças a Deus, como o despertar de um sonho. De um mau sonho.

terça-feira, abril 17, 2007

TORNEIO MEDIEVAL


quinta-feira, abril 12, 2007

André Frossard, da Academia Francesa, educado no ateísmo perfeito, narra, em seu livro “Deus existe, eu encontrei-O”, como se lhe revelou subitamente a verdade cristã, em dois minutos, quando, ao entrar numa capela ao encontro de um amigo, foi sujeito a uma explosão de luz, ” duma transparência infinita, duma luminosidade quase insuportável (...) acompanhada por uma alegria(...) do náufrago recolhido a tempo (...) de uma doçura activa, esmagadora, ultrapassando toda a violência (...) – (...) a evidência feita pessoa dAquele que teria negado um momento antes (...).

O ESPELHO

Quando um dia tivermos a coragem
de nos olharmos sem disfarce ao espelho
- não o cristal que mostra a nossa imagem,
mas o rosto de Cristo do Evangelho -

rasgado o peito e exposto na miragem
o coração esclerosado e velho,
inundado de lodo que, em voragem,
circula onde pulsou sangue vermelho

- veremos que esse espelho é uma fornalha
de luminosidade resplendente
como mil sois brilhando em sintonia,

que não reflecte o mal, mas o retalha,
funde em amor o coração doente,
no-lo devolve pleno de alegria.

quinta-feira, abril 05, 2007

OS OLHOS DA FOME

segunda-feira, março 26, 2007

BITMAPS: O INCÊNDIO




quarta-feira, março 21, 2007

METAFÍSICA

Não me acontece angústia metafísica.
O que me vem é claro como o dia.
Não leva a nada a só filosofia
que à luz aspira em vão, cansada e tísica.

A verdade geral é quase física:
- Todo o Universo é límpida harmonia
composta com rigor de geometria
pelo Supremo Génio da astrofísica.

E já que autores não fomos da existência,
é só do Criador a omnisciência
do que gerado foi por seu critério.

Decifrar o infinito ? Irracional…
Todo o mistério é coisa natural
e natural vivermos no mistério.

domingo, fevereiro 25, 2007

À SORTE E À MORTE ...
( recomendado contra insónias )
#
É norma prudente e velha,
proposta por sábia gente,
que se olhe a sorte de esguelha
e encare a morte de frente.
#
Se o Homem fosse macaco,
teria bem melhor sorte:
- não dava voltas ao caco
e não pensava na morte ...
#
Os homens fogem à morte
como o diabo da Cruz.
A morte apanha-os à sorte
e, a cada um ...catrapuz !
#
Desde o berço até à morte,
que andamos nós a fazer ?
A correr atrás da sorte
que connosco há-de morrer !
#
Vai a sorte à nossa frente
como a sombra, na corrida.
À morte, volta-se a gente
- e vê que foi sombra a vida.
#
No mar revolto da sorte,
meio mundo anda perdido,
a olhar a estrela da morte
à procura do sentido.
#
Mesmo gozando da sorte
de ter quanto o mundo dá,
quem não se lembra da morte
anda sempre ao deus-dará .
#
Quem me dera ter a sorte
de conhecer o futuro:
- subir ao muro da morte,
olhar por cima do muro ...
#
Se alguém morre, lembra a sorte
que nos espera. E, assim,
quem sofreu a sua morte
sofreu-a também por mim.
#
A nossa vida é pequena,
mas Deus dá-nos outra em sorte:
- temos a morte por pena,
mas não a pena de morte ...
#
Fiz estas quadras, à sorte,
na cama, para dormir.
Se vinha o sono da morte,
muito me havia de rir !...

domingo, fevereiro 18, 2007


quarta-feira, fevereiro 14, 2007

OLÉ !!...


EDITAL


A morte de touros na arena ou para consumo encontra-se já autorizada em locais licenciados para o efeito, desde que executada segundo a arte e técnica consagradas para a especialidade.

Torna-se público que a morte, pelas grávidas, de filhos menores de dez semanas de gestação, passa a beneficiar de idêntico regime, que vigorará por tempo indeterminado até ao regresso da civilização.


( a ) Assinatura ilegível

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

OS ANEXOS DA GRÁVIDA

O ilustre geneticista Mário de Sousa, médico pelo “sim”, entra em palco no Jornal de Notícias de 25 de Janeiro último.

Começa por reconhecer que “ (...) é facto científico que a nova vida [humana] inicia-se na fecundação.”

Sobrepõe depois uma capa de filósofo, e com um passo de mágica, tira o coelho da cartola:

I
( para quem gosta de pensar )


Todavia – acrescenta ele – essa nova vida, até aos cinco meses, não passa de um “esboço”, de “um anexo da mãe sem autonomia”, porquanto não desenvolveu ainda certas das suas potencialidades, tais como o funcionamento do pulmão (sic), a segregação de hormonas pela tiroide, o amadurecimento do cérebro, a formação de válvulas no coração de modo a conduzir o sangue a toda a parte.

De modo que, para ele, pelos vistos, a nova vida, até aos respectivos cinco meses de gestação, não é ainda uma vida em condições, não é ainda um ser humano propriamente dito, ou é um ser humano incompleto, embora tenha de “ter estatuto e dignidade e ser protegida.”

Esta de um determinado ser vivo em desenvolvimento não ser aquilo que é enquanto não atingir certa fase do seu desenvolvimento é digna de primeiro prémio na antologia dos ilogismos ! Um batateiro não é batateiro enquanto não der batatas !

Salvo se ele considera que essa vida que começa na concepção, é uma vida não humana e, apenas uma vida ( como dizer ? )...surrealista.
Mas porquê surrealista só até cinco meses ? Eu escolheria antes a puberdade. Até lá falta ao dito ser vivo uma característica de todo o ser vivo: a capacidade de reprodução...


II

( para quem pensa facilmente )


“Anexo”, “falta de autonomia” , porquê ?

Porque vive unido à mãe ? Porque vive “parasitando” o corpo dela ?
Assim permanece até aos nove meses e não durante cinco...
E que tem isso a ver, com diversa natureza ou dignidade ?
Duas crianças que nascem unidas por alguma parte do corpo – e, nesse sentido, não autónomas – não são seres humanos como quaisquer outros ?

E que tem a ver parasitagem com falta de autonomia, de identidade própria ? Inúmeros seres sobrevivem parasitando outros seres vivos, do nascimento à morte, sem que, de modo algum, com eles se confundam. A começar pela lombriga...


III
( para quem vê logo, quase sem pensar )


Mas a mais clamorosa incongruência do médico em causa, porque entre aquilo que sustenta e aquilo que irá fazer, reside nisto:

- Por um lado, sustenta que o embrião deve “ter estatuto e dignidade e ser protegido.”
- Por outro vai votar favoravelmente uma lei que lhe recusa toda a protecção, todo o direito, qualquer estatuto, qualquer dignidade, tratado juridicamente como uma coisa, de que a mãe pode dispor a seu livre alvedrio, tal como dispõe de qualquer móvel que prefira conservar ou lançar fora !

Reserva o estatuto para os embriões de laboratório ?

terça-feira, janeiro 30, 2007

quarta-feira, janeiro 10, 2007

MULHER FATAL

sexta-feira, dezembro 29, 2006

OUTONAL

Eu julgo que nunca ninguém há-de
Ver poema tão belo como a árvore.
(.....................................................)
Os tontos, como eu, fazem poesia;
Uma árvore, só Deus é que a fazia.

(Joyce Kilmer- Versão de Herculano de Carvalho)

As folhas dos plátanos castanhas
que a meiga luz do Outono faz brilhar
escrevem sobre o chão coisas estranhas
que só a brisa sabe decifrar.

São os sutis segredos das montanhas,
segredos que puderam escutar
quando, da terra ainda nas entranhas,
eram oculta seiva a germinar.


Segredos sobre as fontes da harmonia,
da beleza, da paz, da suavidade
que às ramagens trouxeram lá do fundo,

talvez para que o Homem possa um dia,
despido de arrogância e brutidade,
sentir pulsar o coração do mundo.


Renato de Azevedo

quarta-feira, novembro 29, 2006

A BICICLETA

No m/ bitmap abaixo, falhou a seguinte frase de Camilo, salvo erro, quando o automóvel era ainda miragem:

"Bicicleta é o único meio de locomoção em que o animal que puxa vai sentado"

domingo, novembro 12, 2006

A FACA
( Sic transit )

A fulmínea faca
pendente do espaço
sem cabo de alpaca
só lámina de aço
medindo a compasso
sua meta opaca
com rítmico passo
que foge e que ataca
- como se um relógio
pendular buscasse
num hemerológio
a escondida face –
quando a corda estaca
presa de cansaço
visa o alvo a pino
desaperta o laço
divide o destino.

terça-feira, novembro 07, 2006

E O PAI ?
Extractos de uma sentença judicial proferida em 2010


“(...) A autora, mãe de Felizmente Nascida, vem exigir do demandado pensão de alimentos na qualidade de pai do dito rebento, invocando para tanto a extrema dificuldade económica em que se encontra (....)

O demandado confessa essa sua qualidade, mas nega qualquer obrigação daí derivada, que contesta nos seguintes sumários termos:

a) É certo que o contestante doou à autora os seus espermatozoides. Porém
b) A partir daí, ficou completamente impossibilitado de interferir no uso que a autora lhes quisesse dar.
c) De facto, a Lei interruptora de 2007, conferiu à grávida o exclusivo e libérrimo direito de, em tempo oportuno, optar pela pela IVG ou pela confecção de um filho a partir da massa concepcional.
d) Se a autora escolheu a segunda hipótese, só a ela cabe a respectiva culpa, porquanto – repete-se – não era lícito ao contestante meter aí prego nem estopa.
e) Ora, ninguém pode ser responsabilizado por decisões ou actuações alheias, completamente fora da sua alçada.
f) Diga-se, de passagem, que, se o demandado tivesse possibilidade de intervir, escolheria a IVG saudável, pois tem consciência de que aquilo que mais desejam as crianças nascidas nas condições da Felizmente é que as suprimam.
g) Tudo se passa pois, em verdade, como se a autora tivesse adquirido o produto em algum legal banco de esperma ( aliás, acessível, modernamente, em qualquer supermercado ).
h) Não se vê diferença alguma – nem a mínima razão que a justifique – entre a situação de um dador anónimo e a de qualquer outro dador, baseada na inócua circunstância de um ter sido escolhido num banco de saúde e o outro num banco de jardim.
i) É por isso que, na irrefutável lógica do sistema, acaba de ser proposta na Assembleia da República a interrupção dos processos de investigação da paternidade, por descabidos.
(.............................................................................)
Tudo viso e decidindo:
Tem razão o contestante, pelas razões que invoca.
Em recente sentença deste tribunal que pode, sem esforço, aplicar-se aqui por analogia, “se alguém doa a outrem uma viatura, assim perdendo sobre ela qualquer poder de disposição, não é responsável pelos acidentes que o donatário provoque em livre utilização da mesma.”
Assim, tendo em conta os artºs ( ... ) e sem necessidade de mais considerandos, absolvo o demandado.Custas pela autora. Notifique. ”

quinta-feira, novembro 02, 2006

Ao Domingo

Ao Domingo, os manequins,
dentro dos seus mostruários,
requintam os vestuários;
e, dos vítreos galarins,
assistem aos folhetins
da gente que em frente passa
ao retardador na praça,
por não ter nada que faça.
E acham graça.

Renato de Azevedo

sábado, outubro 28, 2006

Fait-divers

Bonita era a lua,
de prata lavrada,
girando na rua
da noite estrelada.
Cá baixo na estrada,
ladrava-lhe um cão
por tudo e por nada,
como é tradição.
Ninguém sentiu dor
no embate brutal:
nem o condutor
nem mesmo o animal,
que tempo não teve
sequer de ganir.
Prostrado na neve,
ficou a dormir.
Sofreu a menina
de trança em rabicho:
era pequenina,
gostava do bicho.
Correu, repentina…
Incauta e em desnorte,
lançou-se na estrada…
………………………….
Não, leitor ! Por sorte,
não sucedeu nada.

( Renato de Azevedo )

sábado, outubro 21, 2006

Uma poesia a proporcionar ar puro no meio da poluição abortista:

VIDA
Do Mar nascemos, do mistério imenso
que se esconde por trás dos Universos,
do Mar sem fundo, do segredo denso
onde o Princípio e o Fim jazem imersos.
Um rio nasce em nós e nos envia
para onde nascemos,
e o marulho do Mar nos anuncia
o mistério que temos.
Ao nosso lado vem essa esperança
que tem a núvem sem destino certo.
Passeamos os olhos de criança
como o raio cortando o céu aberto.
No ângulo quebrado dos sextantes
sonhamos a canção de marear.
Todas as horas, todos os instantes
são do ondulado cântico do Mar.

( Renato de Azevedo )

quinta-feira, outubro 12, 2006

FILOSÓRFICAS
I
Se o passado não subsiste
e o presente...já passou !…
e o futuro ainda inexiste
- Como é que existo e o que sou ?!
II
Sou de átomos só ?
Átomo não pensa…
Sou, pois, paletó
de uma outra presença.
Ora, essa presença
pensa-se a si mesma
( o que me diferença
do gato ou da lesma )
- pensante pirueta
que dá que pensar:
perdida a jaqueta
com que me abrigar ?
III
Negas a Deus com mestria,
brilhante no argumentar.
A tua filosofia
tem a beleza vazia
de uma paisagem lunar,
onde o Homem, todavia,
não consegue respirar.

terça-feira, outubro 10, 2006

TERNURA MATERNAL

Simplex- 2

Será errado afirmar que os jornais que aceitam anúncios de ostensivo convite à prostituição também indirectamente se aproveitam dessa actividade para sobreviverem ?
Será tolice sugerir que o combate à prostituição deve começar por impedimento à respectiva propaganda ?

segunda-feira, outubro 09, 2006

  1. AO RIO AVE

    Meu companheiro de menino e moço,
    a quem eu devo mágicos instantes:
    Recebe este postal – já que não posso
    andar contigo, como andava dantes,

    a prescrutar os peixes coleantes
    nos infantis mistérios de algum poço;
    depois – a vez primeira em alvoroço -
    a lançar-te meus braços confiantes

    e a navegar contigo, já sem medo,
    entre a grácil luxúria do arvoredo,
    ou descansando nas ridentes vargens...


    Desculpa que não vá. Custa-me ver-te,
    doente e sem doutor que te conserte,
    coçando as tuas chagas contra as margens.


    ( Renato de Azevedo )