FILOSÓRFICO

quinta-feira, maio 31, 2007

O SUPOSTO "TÚMULO DE JESUS" EM CAMPANHA MEDIÁTICA,
por
P. Manuel Gonçalves, CSSp.

Atenta a extensão do texto, do maior interesse, que me foi amavelmente facultado, reproduzo-o, com as minhas desculpas, sob a forma, embora indevida, de "comentário".

9 Comments:

  • TEXTO DA AUTORIA DE
    P. MANUEL GONÇALVES, CSSp :

    O suposto “ túmulo de Jesus” em campanha mediática

    Passada a fase do “ciclo Código da Vinci”, com que o anti-cristianismo actual tentou abalar a consciência cristã (sem grandes consequências, diga-se) surgiu recentemente, aproveitando a proximidade da festa da Páscoa, uma campanha mediática sobre um importante achado arqueológico, encontrado em 28.03.1980 nos subúrbios de Jerusalém –uma cripta funerária, já “achada” pelos arqueólogos do IAA estatal, mas analisada depois por dois cineastas e um romancista que trabalhavam por conta da “National Geographic Society” americana. Apressadamente e ao contrário das conclusões da equipa judaica, esses cineastas julgaram que a cripta funerária era pertença da família de Jesus. Assim, poderia haver nela um sarcófago onde eventualmente poderiam ter sido colocados os restos mortais de Jesus, depois de retiradas as ossadas (supuseram, pois era esse o costume) do sepulcro em rocha que José de Arimateia disponibilizara. É essa agora a nova fase da investida, um suposto “túmulo de Jesus”. Será uma tentativa de questionar os fundamentos do cristianismo e o centro da sua fé cristológica –a ressurreição corporal de Jesus?.
    A campanha sobre o pretenso túmulo de Jesus assenta na divulgação de um vídeo televisivo de 90 minutos que a National Geographic Society financiou, mais um livro que corresponde ao vídeo: “The lost tomb of Jesus”- “o túmulo perdido de Jesus”. Note-se que este livro, escrito por Jacobovici e Pellegrino (um cineasta e um romancista), tem subtítulo exagerado e algo provocante: “a descoberta, a investigação e uma evidência que pode mudar a história”. Reparem no termo “evidência”, que, como se verá, é francamente despropositado.
    Significativamente, a revista americana TIME, reportando o lançamento da campanha com uma sessão na Public Library de Nova York, realizada e mediatizada em 04 de Março passado, titulava assim o que se passou e se queria divulgar ( tinham trazido de Jerusalém e estavam diante da assistência os sarcófagos que diziam ter sido de Jesus e de Maria Madalena). Era então o título: “A titanic claim -Jesus is still dead”. Ou seja: “uma pretensão titânica, Jesus ainda está morto”. Pode entender-se o adjectivo “titânico” simbolicamente, no sentido de uma grande força de impacto que se espera da campanha, ou no sentido real de que o principal realizador do vídeo é o mesmo que realizou o famoso filme TITANIC, James Cameron.
    Que credibilidade merece tal campanha? Qual é o valor das conclusões dos jornalistas, cineastas, e “arqueólogos ad hoc” que, apoiados pelos 3 milhões e meio de dólares com que a National Geographic Society apoiou a expedição, a feitura do vídeo e a publicação do livro de acompanhamento? Eles colheram dados e informação em Jerusalém para o vídeo e o livro. Mas que valor tem o que mostram e dizem, sabendo que nenhum deles nem era nem é arqueólogo de profissão (apenas um, Jacobovici, se interessava por isso, mas como simples amador, curioso de arqueologia judaica), e nenhum é perito em questões bíblicas? Bem vistas as coisas, a história contada e a campanha têm pés de barro.
    Depois de referir os dados gerais que enquadram a questão, procurarei considerar a consistência e valor dos dados que são apresentados, citando o parecer autorizado de arqueólogos oficiais que vivem e trabalham em Jerusalém. Acreditem que se trata mesmo de campanha, pois o vídeo tem sido exibido pelo “ Discovery Channel” da Sociedade americana, pelo Canal-4 inglês, pela “Canada’s Vision”, e pelo Canal-8 de Israel. O filme contém várias “recriações”, feitas por uma artista americana de origem checa (Ric Esther Bienstock) , ilustrando a pessoa e ministério de Jesus, a crucifixão e tumulação, paisagens da Judeia, os discípulos e familiares de Jesus. Reparem: no “site” do Discovery Channel, lia-se em 27 de Fevereiro: “esta é uma história que há-de ser levada pelo mundo fora” (“ this is a story that will be carried around the world”).
    Quanto ao livro, nele se afirma que os muçulmanos não acreditam nem na crucifixão nem na ressurreição de Jesus. Como estes senhores provavelmente sabem pouco de história da Igreja e de história das religiões, ignoram que o que Maomé conheceu do cristianismo e entrou depois para o seu “livro santo”, foi tomado sobretudo dos grupos de cristãos gnósticos que ele conheceu na Síria, quando ia com as caravanas de comerciantes de Meka até Damasco. Ora, os gnósticos não aceitavam a realidade física do corpo de Jesus, porque entendiam que o corpo humano, por ser material (por isso mau), não podia servir ao “Mestre” que veio de Deus; negavam por isso a realidade da Incarnação, da Crucifixão e da Ressurreição de Jesus. Quanto à tradição islâmica, como de facto alguém foi crucificado, ela retoma uma ideia vinda ainda de um antigo Grupo gnóstico, dizendo que Deus mudou o aspecto de outra pessoa fazendo-a parecer-se com Jesus, de modo que teria sido tal pessoa a ser posta na cruz –aventam que essa infelicidade terá caído no Cireneu ou em Judas –o que é pura imaginação sem consistência, embora ideia semelhante (que Jesus não morrera na Cruz, mas somente desmaiara, tendo depois voltado a si, em vez de ressuscitar) tenha sido lançada por um racionalista do século XIX (Paulus) e seja ainda citada por grupos esotéricos da actualidade, pretendendo que Jesus teria sobrevivido à Cruz .Foi essa a tese de um livro americano de 1970 que, na altura, deu brado –“The Passover Plot” –“a conspiração da Páscoa”. À luz do Evangelho, tal sobrevivência de Jesus era impossível; por isso os inventores da teoria (esotéricos e feministas exacerbadas) apelam a um imaginado grupo conspirador chefiado por Lázaro, já que, imaginam, Maria –irmã de Lázaro, seria “noiva de Jesus!”, e por isso a família de Lázaro teria “conspirado” para livrar Jesus! Para notar o sem-sentido dessas hipóteses, basta considerar o seguinte: quem perde tanto sangue como Jesus perdeu, quem fica numa Cruz em posição que dificulta a respiração, quem é atravessado no peito por uma lança, certamente não fica vivo.
    Entretanto, fique já claro o seguinte: mesmo que se provasse (o que está longe de acontecer) que as ossadas de Jesus, de Maria Madalena, de Maria mãe de Jesus, e de uma criança chamada Judah, (apresentada como filho de Yeshuah -Jesus), tivessem estado (ou estivessem ainda, incrivelmente, até à chegada dos cineastas) no sarcófago que é atribuído a cada um, isso não afectaria a fé cristã na Ressurreição corporal de Jesus, se os vários pontos da questão forem devidamente considerados. O testemunho dos Apóstolos sobre Cristo ressuscitado e vivo, certeza de fé que eles ganharam e que proclamavam, pela qual deram a vida, não assentou no facto de encontrarem o túmulo vazio, mas sim nas aparições inesperadas do Ressuscitado, que a descrição dos Evangelhos demonstra não terem sido fruto de ilusão, de sugestão ou de histeria colectiva (esta foi a explicação tentada pelo filósofo pagão Celso, que o teólogo e biblista Orígenes, no século III e em Alexandria, refutou). Tal fé baseia-se ainda mais e acima de tudo na convivência que eles, durante 40 dias, tiveram com o ex-Crucificado Jesus, agora vivo diante deles, convivência atestada pelos Actos dos Apóstolos 1.1-4. Os Apóstolos e as mulheres que primeiro viram Jesus inesperadamente vivo, encontraram o sepulcro vazio, mas nunca foi isso que eles e elas anunciaram; foi antes –“Deus fez Jesus, o Crucificado, ressurgir da morte”.
    Isto é, a fé cristã na ressurreição de Jesus é de fundamento apostólico certo: resulta de um testemunho sobre uma experiência visual, auditiva e vivencial própria de cada Apóstolo e comum a todos (mais de 500 irmãos viram Jesus vivo, diz S.Paulo em 1Cor.15). Desse modo, a nossa fé pascal assenta na experiência que os Apóstolos viveram, superando duvidas iniciais, experiência que depois testemunharam decididamente, que transmitiram à Igreja, a qual agora prolonga pelo tempo fora esse testemunho “fundador” dos Apóstolos, e que os cristãos, cuja vida se ligou a Cristo pelo Baptismo da fé, celebram cada Domingo (dia chamado “dia do Senhor”, ao menos desde o ano 96, como se vê pelo princípio do Apocalipse), e em cada festa anual da Páscoa.
    Mas, neste vasto assunto, iremos proceder por partes, voltando ao principio da questão. Virá em artigos a seguir. Baseio-me em livros como “The Jesus Family Tomb”
    (S.Jacobovici, Ch.Pellegrino –livro da campanha), “Excavating Jesus” (J.D.Crossan), “Jesus and Archaeology” (H. Charlesworth), e pesquisa, pela Internet, em revistas e “sites” apropriados.
    P. Manuel Gonçalves, CSSp.

    O SUPOSTO “TÚMULO DE JESUS” EM CAMPANHA MEDIÁTICA

    2. OS DADOS DA QUESTÃO

    Quem foi a Jerusalém recolher material para o filme do “Discovery Channel”, e depois elaborou o documentário televisivo e escreveu o livro correspondente, teorizando sobre o significado do que se achara? Quatro jornalistas, três operadores de cinema e televisão, que não profissionais de arqueologia, peritos em antiguidades. Foram antes de mais dois nomes prestigiosos do cinema: o realizador do filme “Titanic”, o canadiano James Cameron, e o produtor de vídeos para a Tv e amador de pesquisa arqueológica Simcha Jacobovici (um canadiano de ascendência judaica). Juntou-se-lhes um romancista americano de origem italiana, Charlie Pellegrino, colaborador de Cameron no Titanic e noutros filmes, autor de romances em contexto de arqueologia.
    Tudo somado, pode ter-se como certo, segundo ao arqueólogos Judaicos, que os sarcófagos em questão datam do I-II século da era cristã e o achado corresponde a costumes funerários desse tempo. O tipo de letra ( o que está gravado nos sarcófagos, seja em aramaico, latim ou grego) aponta para a fase herodiana da história de Israel. O que levou a crer que a cripta funerária seria pertença da “família de Jesus” são as inscrições de nomes que se encontram ou no frontal ou num dos lados dos sarcófagos. Isso entusiasmou os “jornalistas” americanos, mas mereceu encolher de ombros de arqueólogos judaicos, que não concordaram com as conclusões dos cineastas: pareceu-lhes que o achado era de pouco interesse, porque os nomes, mesmo o de Jesus, eram nomes comuns daquele tempo. Emprestando dois sarcófagos para o “show” de 4 de Março em Nova York, aquando da apresentação do vídeo e o início da campanha em que a “National Geographic Society” se empenhou, os arqueólogos do IAA (Instituto Judaico de Arqueologia – “Israel Antiquities Authority”), que tutela os “sites” e achados de Arqueologia) declararam que o empréstimo não significava acordo com o que iriam dizer os jornalistas.
    Por sua vez, o Provedor americano do Museu Rockfeller de Jerusalém, Joe Zias, Responsável do museu de 1972 a 1997, limitou-se a comentar: o entusiasmo dessa gente prova que não são do ofício; sarcófagos desse tipo abundam nos arredores de Jerusalém, e os nomes não têm nada de invulgar. Zias pesquisou também o local; foi ele quem numerou os sarcófagos, que depois foram guardados no armazém do IAA.
    A cripta funerária foi encontrada quando operários preparavam terreno para um complexo de habitações, na colina “Tolpiat”, a sudeste de Jerusalém . Alertados, os arqueólogos do IAA (”Israel Antiquities Authority”) compareceram; vieram depois do sábado investigar, traçaram o desenho do local, tomaram as ossadas e inumaram-nas, como é de lei, e o chefe do grupo, o arqueólogo Amos Kloner (que logo discordou da interpretação que os jornalistas faziam do achado, notando que de facto se tratava de uma vasta cripta funerária, mas sem nada de especial); foi ele quem redigiu o relatório oficial da pesquisa e do achado. O IAA levou depois os ossários para o armazém do Instituto, onde mais tarde os cineastas americanos puderam observá-los.
    O que levou então os jornalistas a pensar que o achado tinha relação com a família de Jesus foram as inscrições com o nome da pessoa a quem, em princípio, haviam pertencido as ossadas –tudo nomes citados no Novo Testamento e pertencendo ao círculo de Jesus – familiares ou acompanhantes. Para esses jornalistas-investigadores, o peso das suas conclusões, acham, provém da qualidade e mútuo relacionamento dos nomes encontrados: “a cluster” de nomes (um “cacho” de nomes), o que para eles indicia laços familiares. A cripta, concluiram, seria de uma família; como o nome “Yeshuah” aparece três vezes, concluíram que seria a cripta de sua família. Veremos que tal conclusão não é segura.
    Esses enviados do “Discovert Channel” apoiam-se sobretudo nas inscrições de três sarcófagos: um que tem gravado “Yosé e Maria” (em caracteres aramaicos), outro que diz “Yeshua (Jesus) “bar”- filho de Yosé, (em aramaico); outro de “Mariamene (diminutivo de Miriam) - e Mara” ( “a Mestra”), em aramaico mas com caracteres gregos; e um outro, com gravação ainda em aramaico, “Yuddah, bar-Yeshua” (Judá, -filho- de Jesus). Os cineastas concluíram, por informação colhida noutro quadrante, que “Mariamene” se referia a Maria Madalena, e assim se explicava a existência de um sarcófago infantil, “Yuddah”, “filho de Jesus”. Parece tratar-se de razões de peso para as conclusões que avançaram, mas veremos que não. Outros sarcófagos indicavam nomes como “Maria” (latinização do aramaico “Miriam”), Matia (ou “Mateus”), Salomé –tudo nomes citados no Novo Testamento.
    O canadiano Jacobovici lembrou-se de o Grupo ir examinar a necrópole e os ossários que o IAA levara, porque na década de 1970 um jornalista inglês comprara a um antiquário judeu um sarcófago onde havia a inscrição “Tiago, filho de Yosé, irmão de Jesus”. Já então a National Geographic Society , com Jacobovici, fizera um vídeo sobre o achado, que deu brado quando, em 1996 e 2003, foi exibido pela BBC e pelo Discovery Channel, tendo alguma gente visto aí uma prova de que Jesus era um simples humano .
    Comentários de arqueólogos de profissão vivendo em Jerusalém atestam que as conclusões que os cineastas tiraram dos achados de Tolpiat vão muito para além do que se encontrou. Entretanto, o sarcófago de “Tiago” deu história. Jacobovici afirma que esse sarcófago fazia parte do conjunto da cripta, e provavelmente tem razão, até porque há lá um espaço vazio onde ele caberia. O cineasta fez examinar por especialistas, com microscópio electrónico, um pouco da “patine” que havia na parte superior do sarcófago, comparando-a com a “patine” de um outro que estava na cripta, e o exame mostrou que a “patine” era idêntica. O pior é que o IAA não reconhece validade ao sarcófago vendido pelo antiquário judeu, de nome Odel Golan, acusando este de falsário e levando-o a tribunal, achando que foi ele quem gravou a inscrição “Tiago, filho de Yosé, irmão de Jesus”, nomeadamente a 2ª parte da inscrição. O falsário protesta inocência, e por isso o caso ainda está pendente em tribunal. Porém, tudo isto demonstra como nestes assuntos de achados da antiguidade e sua interpretação, é indispensável que os “actores”sejam competentes e honestos. Quanto ao trio que investigou os achados da “cripta de Tolpiat”, competência não têm muita, pois são cineastas e não arqueólogos.
    A barrar-lhes o caminho, sucede que dois grandes arqueólogos de profissão, um do IAA (por sinal quem primeiro examinou a cripta e redigiu o relatório oficial da investigação – Amos Kloner), e um dos mais destacados arqueólogos da famosa “École Biblique de Jérusalem”, onde é professor, colocam sérias objecções ao que afirma o trio “investigador” Jacobocivi-Cameron-Pellegrino. Veremos à frente.

    De há muito se sabe que a colina de Tolpiat, nos subúrbios de Jerusalém, esconde centenas de criptas funerárias com milhares de sarcófagos, frequentemente postos a descoberto pelos trabalhos de urbanização da área. Foi aí que os “enviados” da National Geographic Society encontraram a tal cripta da suposta “família de Jesus”. Indo verificar os sarcófagos que o IAA guardara, concluíram, pelas incrições neles gravadas (difíceis de ler, mas que especialistas em epigrafia decifraram), que se tratava de uma cripta com os ossários de Jesus, sua mãe e o “pai” legal Yosé, Maria Madalena (pensaram), um filho atribuído a Jesus, e outras pessoas cujos nomes constam do Evangelho. O trio-investigador gravou imagens, anotou as inscrições, e teorizou, para o vídeo e o livro de acompanhamento, a afirmação estrondosa de que, numa provável “cripta familiar” de Tolpiat, fora achado um sarcófago que continha pequenos restos de ossadas atribuíveis a Jesus. Alguns Meios de Informação acrescentaram: cai por terra a crença na ressurreição de Cristo! Mas tal afirmação é somente um deslize que pode acontecer a quem se mete em assuntos que não são do seu ofício.

    Segundo os arqueólogos do Instituto Judaico de Antiguidades, um Organismo estatal que tutela os achados arquelógicos do país ( o “IAA” – “Israel Antiquities Authority”), os nomes que aparecem nos sarcófagos eram todos comuns nos séculos I-II. O arqueólogo que redigiu o relatório da descoberta, Amos Kloner, diz que, nesse tempo, 25% das mulheres de Jerusalém tinham o nome de “Miriam”, ou um derivado deste nome geral. E acrescenta: à partida, não é crível que a família de um carpinteiro da Galileia tivesse, longe da sua terra, uma cripta tão vasta (embora as criptas funerárias, depois que os Romanos destruíram Jerusalém no ano 70, se tenham generalizado, chegando mesmo à região da Galileia). Diz mais o referido arqueólogo: no século I-II, as famílias judaicas usavam colocar num nicho escavado na rocha o corpo dos seus defuntos; quando o corpo de dissolvia, num mínimo de 1 ano, as ossadas eram postas num sarcófago da família, sozinho ou sobre outras ossadas. O trio da Geographic Society dá uma explicação que poderia aceitar-se, mas que é puramente imaginada. É natural, dizem, que os familiares de Jesus se tenham integrado na Comunidade cristã inicial. De facto, Tiago, que S.Paulo chama em Gal. 1.19 de “irmão do Senhor”, segundo Act.15, na altura do chamado “Concílio de Jerusalém (–Act.15, no ano 45 ou 49) seria o “Ancião” (ou “Bispo”) da Comunidade de Jerusalém. Era-o ainda no ano 58, mas foi lapidado no ano 62 por ordem do Sumo Sacerdote. Porém, segundo o que vem dito nos Evangelhos, o corpo de Jesus só esteve três dias no sepulcro facilitado por José de Arimateia, e depois disso o túmulo apareceu vazio. Como é que o corpo de Jesus se poderia ter decomposto em tão pouco tempo? Como explicar que as ossadas foram ( se foram, e quando?) levadas para o ossário, supostamente familiar?. Em história, não vale recorrer à imaginação para preencher a falta de documentação. O boato lançado pelos Chefes de que os Apóstolos teriam “roubado o corpo de Jesus” (Mat. 28.11-13) não resolve o problema, pois onde iam eles guardar os restos do Mestre? Como bem diz Lisa Miller, colunista do New York Times escrevendo no nº de Fevereiro da revista Newsweek, as explicações dos homens da National Geographic levantam mais questões do que fornecem respostas.
    Um indício de que a cripta onde estariam os restos mortais de Jesus poderia ter recebido alguma atenção da primeira Comunidade cristã de Jerusalém, poderia ser o facto de todos estes sarcófagos terem a indicação de um nome, quando, segundo os arqueólogos do IAA, em regra só 20% dos ossários à volta de Jerusalém costumam ter um nome gravado. Mas aí, estamos apenas a lidar com hipóteses. Não há nenhum documento que assegure esta possibilidade, totalmente teórica.
    O SUPOSTO “TÚMULO DE JESUS” EM CAMPANHA MEDIÁTICA

    3.-. AS OBJECÇÕES DE ARQUEÓLOGOS DE TOPO

    Já foi dito que o arqueólogo do IAA israelita, que, com colegas, examinou a cripta funerária, (antes –logo em 1980, e depois do exame dos cineastas), e redigiu o relatório oficial de tudo (Amos Kloner), manifestou cepticismo quanto às conclusões do trio do “Discovery Channel”. Qualificou-as, redondamente, de “nonsense”, “disparate”. E contrapôs alguns dados às afirmações do “trio investigador” (Kloner é também professor na Universidade israelita de Bar-Ilan). Observa: “no seu filme, esse trio anuncia que o seu vídeo transmite informação nunca antes dada”, mas ele não traz nada de novo. Eu publiquei tudo no jornal “ANTIQUOT” em 1986, diz Kloner, e nunca afirmei que se tratava de uma cripta da “família de Jesus”. E continua: os nomes gravados nos sarcófagos são nomes frequentes e comuns do século I-II, mesmo o nome “Yeshua”, e é mera casualidade que eles coincidam com nomes registados nos Evangelhos; muitas mulheres se chamavam “Miriam”, na Jerusalém desse tempo. E insiste: como poderia, com que meios, um modesto carpinteiro da Galileia, longe de Jerusalém, adquirir uma cripta tão vasta e com tantos sarcófagos de pedra calcárea, e logo num espaço de tanta concorrência funerária?
    Acrescenta Kloner que a cripta, por falta de espaço no cemitério de Talpiot, foi também usada, depois dos séculos I-II, por três ou quatro gerações de famílias judaicas. Mais: havia sinais de que a cripta, ao longo dos tempos, foi frequentada e vandalizada. Diz mais o arqueólogo do IAA: “a pretensão de terem achado tal cripta funerária não tem nenhuma prova, sendo apenas uma tentativa comercial –“is not based on any proof and is only an attempt to sell”. Outro arqueólogo do IAA, Stephen Pfana, professor de Bíblia em Jerusalém, reagiu também assim: “ the hypothesis holds little weight” –a hipótese (dos cineastas) tem pouco peso”.
    Vem a propósito que entre ainda em cena o arqueólogo americano John Dominic Crossan, autor do livro “Excavating Jesus”, que coloca as seguintes perguntas: por quem, quando e porquê, foi vandalizada a cripta funerária “tida” como propriedade da “família de Jesus”? Que alterações terá o facto provocado nesse conjunto arqueológico? Dada a nossa distância temporal em relação a esse tempo, será difícil saber que é que realmente se passou.
    De peso é também o testemunho de um professor da “École Biblique de Jérusalem”, a cargo dos Padres Dominicanos e talvez o melhor Centro Mundial de Estudos Bíblicos. O professor e arqueólogo americano P. JEROME MURPHY-O CONNOR, em entrevista concedida a 27 de Fevereiro à CNS (”Catholic News Service”), afirmou não ver nenhuma verdade na posição assumida pelo trio do “Discovery Channel”. E comentou: “trata-se de uma jogada de carácter comercial, em que todos os Meios de Comunicação se deixaram envolver”.
    Sem ser nem arqueóloga nem biblista, a jornalista e colunista do New York Times Lisa Miller, escrevendo em 26 de Fevereiro na revista Newsweek, começa por perguntar: por que razão se terá metido esse “trio” numa questão para a qual não possuem preparação técnica? A sua opinião é que eles quiseram aproveitar ainda do que ela chama a “onda Da Vinci”. Isto é: Dan Brown, o autor do romance, ganhou fama e dinheiro com o seu livro, vendido em 42 milhões de exemplares no mundo inteiro, depois de traduzido em mais de 20 línguas –ganho a que se juntaram 30 milhões de dólares por direitos de autor, pagos pela Columbia Pictures para elaborar o filme correspondente (a informação é do CESNUR de Turim –“Centro Studio della Nuova Religiosità”). Lisa Miller, colunista do New York Times, tem o mérito de ter sido quem primeiro criticou o “Código da Vinci”, afirmando que ele distorcia a história do cristianismo e da Igreja. Titulou o seu artigo, em Outubro de 2004 e no New York Times, “The Da Vinci Code, Da Vinci Con” –ou seja, “Código da Vinci, Trapaça da Vinci”. Ela tinha razão, quando outros, por exemplo alguns professores da Fordham University de Nova York, dirigida pelos Jesuítas, só tiveram elogios para o romance, na revista “Commonweal” da Universidade.
    Lisa Miller faz depois um apelo ao bom senso: não se podem ignorar os dados do Novo Testamento, já que este é a fonte mais segura para tudo o que diz respeito a Jesus. Tão pouco se podem ignorar tradições populares antigas. E cita: é tradição local antiga que a mãe de Jesus foi deposta na cripta da actual Capela da Dormição, em Jerusalém; em Éfeso, onde muito provavelmente ela viveu com S. João, é tradição local que ela foi sepultada numa casa de montanha nos arredores da cidade; a partir de 328, o imperador Constantino fez edificar uma basílica sobre o local do rochedo onde, segundo tradição da Comunidade de Jerusalém, teria sido deposto o corpo de Jesus, e hoje esse rochedo e local estão dentro da igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém. É tradição medieval do sul da França que, na Provença, os “santuários” de Saint-Maximin” e “Vézelay” pretendem possuir, disputando-se, os restos mortais de Maria Madalena, enquanto que a Igreja do Oriente afirma que os seus restos mortais foram trazidos no século VIII, por ordem do Imperador, de Éfeso, onde ela teria vivido e recebido o martírio, para Constantinopla. Ora, o trio Cameron-Jacobocivi-Pellegrino escamoteou todos esses dados. Conclui assim Lisa Miller: por isso, toda esta questão sobre a pretensa cripta funerária da família de Jesus e o sarcófago onde, sem prova certa, o “trio” afirma terem estado as suas ossadas, terá de ser retomada, mas agora por arqueólogos competentes e biblistas bem informados sobre o Novo Testamento e o tempo paleo-cristão. É de esperar que aconteça.
    No fim de contas, parece ter razão o Presidente da Liga Católica da diocese americana de Providence, Bill Donalue, quando comenta jocosamente em 15. 03. 07, no jornal da diocese: “pode dizer-se que o produtor do filme Titanic, com este vídeo sobre Jesus, acabou por produzir uma “titânica fraude”.
    Um dado final: o Bispo Auxiliar de Jerusalém (palestino, tal como o Patriarca Mgr. Michael Shabbah), numa entrevista de 1 de Março concedida em Nazaré, pede aos cristãos do Patriarcado (que vivem na Palestina e na Jordânia) que se abstenham de ver o filme da National Geographic e o ignorem, pois ele joga com manipulação (texto na revista “America”, o Semanário dos Jesuítas americanos, em 19. 03. 07). O Bispo recorda que o famoso arqueólogo judaico Amos Kloner considera “nonsense” a teorização do filme, cujo objectivo, diz, é “a question of business”, negócio, “an attempt to make a profit”.

    P. Manuel Gonçalves, CSSp.


    O suposto “túmulo de Jesus” em campanha mediática
    4. Uma avaliação das teses da campanha

    Parece evidente, tratando-se de arqueologia bíblica e de achados arqueológicos da área de Jerusalém, que à partida sejam mais credíveis as opiniões dos arqueólogos do IAA (Serviço Arqueológico, oficial, do Estado de Israel) e da “Escola Bíblica de Jerusalém”, do que a interpretação dos achados arqueológicos feita por cineastas do “Discovery Channel”, meros visitantes e curiosos à busca de novidades.
    No caso presente, será que se justifica o sub-título pomposo do livro que acompanha o vídeo elaborado por esses cineastas, e que diz apresentar –“ uma evidência que poderia alterar a história”? De modo nenhum. - No romance “O Código da Vinci”, Dan Brown também escreveu que o seu livro poderia obrigar a re-escrever a história dos últimos dois mil anos. Não obrigou nada, pois está cheio de distorsões da história. De igual modo, a campanha em curso não altera a história, dado que o seu apoio documental, ao contrário do que afirmam os autores, não tem nenhuma evidência: mal sai do campo das meras probabilidades. Pesando tudo, acabaremos por concluir que, no que diz respeito à fé da Igreja sobre a ressurreição corporal de Jesus, por acção de Deus que o “fez levantar-se do reino da morte”, nada muda. Deduz-se do Evangelho que Jesus vivia unido a Deus em intimidade de fé (a nível da sua humanidade), e em união transcendente (enquanto Verbo Incarnado, o que pervadia toda a sua pessoa, por ser una). Unido a uma condição humana de “carne” que, no comum da Humanidade, tinha a mancha do pecado por alienação em relação a Deus, fez dela sacrifício de amor oferecido a Deus. Colocado, com a Ressurreição, do “outro lado da morte” e “do outro lado do pecado”, reconciliou a Humanidade pecadora com Deus, convidando os “humanos” a se reconciliarem também entre si. Vai ser essa a reflexão de fé que a Comunidade cristã fará da morte de Jesus (uma “morte redentora”), à luz da experiência da Ressurreição. Partindo daí, a leitura dos dois acontecimentos (túmulo vazio e aparições do Ressuscitado) que integram a “Páscoa” de Jesus, fará entender que o que se passou foi um “acto de Deus”, que “fez Jesus surgir do estado de morte”: Jesus andava habitualmente unido ao “Pai da Vida”, que por isso o fez passar, com vida nova, para uma situação diferente de vida corporal, em consequência da sua união amorosa à vontade do Pai: no seu corpo passou a actuar a “glória de Deus”. Tornou-se, pela Ressurreição, “o Príncipe da Vida” (Act.3.15). Já se vê que a Ressurreição de Jesus, se de algum modo se pode dizer que é “histórica”, no sentido de que está atestada por testemunhos de experiência, a ponto de ter de ser tomada como real, pertence simultâneamente ao domínio da fé. Ao proclamar que Jesus passara a fronteira da morte e o seu corpo estava agora no “reino da vida”, os Apóstolos vão sobretudo testemunhar a sua própria fé, a partir da experiência que fizeram, convivendo com Jesus que se lhes manifestara vivo. Não narram o processo da ressurreição, que ninguém viu e por isso que ninguém podia descrever ou dela fazer reportagem, nem falam do túmulo vazio; testemunham a sua própria fé, reclamando o direito a que o seu testemunho fosse tido por verídico, porque –dizem, “nós comemos e bebemos com Ele depois da sua Ressurreição dos mortos”, (lê-se em Act.10. 40-43). Mas tomemos o peso das teses da campanha:

    1. Será certo que se encontrou em Tolpiat a “cripta funerária da família de Jesus”? Os cineastas-investigadores, para dizer sim, baseiam-se no facto de que dos 10 sarcófagos encontrados, 6 têm gravado o nome de pessoas familiares e acompanhantes de Jesus. Sobretudo aqueles que dizem: Yosé-Maria, Tiago-filho de Yosé e irmão de Jesus, Jeshuah-filho de Yosé, Mariamene, Maria, Mateus (ou “Matia”).
    A isto, os arqueólogos de ofício, conhecedores da área arqueológica e da antiga sociedade hebraica, contrapõem o seguinte: é certo que havia no século I-II a prática de uma segunda sepultura – a da transferência dos ossadas do túmulo primeiro para um sarcófago familiar, individual ou colectivo, podendo ser que tal acontecesse com Jesus. Porém, os nomes indicados nos 10 sarcófagos (incluindo o de Jesus) são na totalidade nomes comuns da área de Jerusalém no século I-II; por isso, podem não ser de familiares e companheiros de Jesus. Mais: nos nomes, não aparece nenhuma qualificação que os individualize, como um “patronímio” ou uma designação da terra de origem. Por outro lado, bem cedo o local tido pela Comunidade cristã e peregrinos como “sítio” onde o corpo de Jesus foi colocado, começou a ser venerado: há inscrições nas paredes que o manifestam, e que os arqueólogos datam do ano 66, quando os especialistas calcularam que a crucifixão de Jesus, com a ressurreição três dias depois, terá tido lugar ou no ano 30 ou no ano 31 ou 33, -a divergência vem do facto que os Evangelhos apresentam diferente cronologia para os acontecimentos da Paixão. Provavelmente (fazendo as contas sobre a diferença entre o calendário lunar usado pelos judeus e o calendário solar agora em uso), muito provavelmente o dia da crucifixão terá sido o dia judaico que corresponde ao nosso actual dia ou 3, ou 7, ou 27 de Abril –talvez o dia 7 (ver o “tableau chronologique” da Bible de Jerusalém.). Assim, trinta anos depois da Crucifixão, a Comunidade cristã venerava o local que considerava ter recebido o corpo defunto de Jesus. Na “igreja da Ressurreição” entretanto construída, foi posto no século IX um belo mosaico em estilo bizantino, representando as “mulheres-discípulas” de Jesus a embalsamar o seu corpo. Sabe-se que o imperador Adriano, no ano 135, mandou terraplanar o local, porque aí acorria muito povo, e construiu um templo pagão a Júpiter e outro a Vénus. Mas o imperador Constantino, depois da visita a Jerusalém de sua mãe Santa Helena, ordenou a construção da actual basílica do Santo Sepulcro, levada a cabo entre 326 e 335 –foi preciso aplanar o local, por ser uma colina. Mas Santa Helena mandou escavar o local, destruindo o terraço feito por Adriano, mais os dois templos pagãos, voltando à vista os locais da crucifixão e da sepultura de Jesus, que o povo tradicionalmente venerava. Fez-se depois a igreja da Ressurreição. O jardim à volta do templo, foi posto em 1883. O livro “The lost tomb of Jesus”, que acompanha o vídro, afirma que S.ta Helena fez torturar alguns rabinos afim de que eles confessassem qual fora o local da crucifixão de Jesus. Não dizem os autores onde colheram tal informação, a qual não existe nem nos escritos de S.Jerónimo nem na “História Eclesiástica” de Eusébio de Cesareia, do século IV. É lícito pensar que se trata de imaginação dos autores, em busca de sensacionalismo. Se a Comunidade cristã local já venerava os lugares da Paixão e da sepultura, nenhuma informação ulterior fazia falta, para mais fora do círculo dos Discípulos.
    É inadmissível que os cineastas da “National Geographic Society” não tenham considerado a veneração de que a Comunidade cristã bem cedo rodeou o local considerado por ela como ligado à sepultura de Jesus (estes dados provêm da Escola Bíblica de Jerusalém, e ouvi-os a um professor de Harvard, o dominicano P. Stephen Ryan, depois de regresssar de Jerusalém., numa conferência de 19 de Março -07, em Providence- USA). Seguem mais dados fornecidos pelos arqueólogos do IAA.
    Além do mais, a cripta examinada pelos cineastas foi utilizada, depois do século I, por várias gerações de famílias judaicas, dada a escassez de espaço no cemitério de Talpiot. Há sinais de que a cripta foi frequentada e vandalizada ao longo dos séculos. A família de Jesus não era originária da área nem lá vivia de modo permanente; sendo de condição modesta, estava fora das suas possibilidades a construção de uma cripta tão vasta e com 10 sarcófagos de pedra calcárea.
    Parece que a conclusão, neste ponto, deverá ser: cripta da família de Jesus? Possível, mas é hipótese incerta, muito pouco ou nada provável. É mais prudente abandonar a ideia, tal como propõem os arqueólogos que conhecem a área e a história de Jerusalém, e como resulta da história da Basílica do Santo Sepulcro. O documento mais seguro sobre a Crucifixão e sepultura de Jesus, é o texto que vem no Evangelho de S. Marcos, considerado o primeiro Evangelho a ser escrito. É seguro atermo-nos a ele, e deixar de lado a pretensa “cientificidade” do vídeo e livro “The lost tomb of Jesus”. Sobre a Ressurreição, além dos Evangelhos, há muitos textos nos Actos dos Apóstolos e nas Epístolas sobre o seu sentido teológico e espiritual, desenvolvidos, à luz da experiência apostólica da Ressurreição, pela primitiva Comunidade cristã (sobretudo S. Paulo – nesse plano, é bastante completo o texto de 1 Cor. 15).
    2. Será que o sarcófago com o nome “Mariamene” diz respeito a Maria Madalena, e será que a colocação dele na cripta indicia que ela teria sido esposa de Jesus? O apoio documental para essa dupla possibilidade é fraco, quase nulo. Do facto de se provar que, geneticamente, Mariamene não fora irmã de Jesus, não se segue daí que seria esposa. Depois, a hipótese de o diminutivo “Mariamene” equivaler a Maria Madalena, apoia-se num escrito pouco fiável, por ser de origem gnóstica e tardio, datando de finais do século IV, princípios do século V, a 150 anos de distância . A dupla possibilidade tem base mais que frágil: terá de ser descartada. Acrescente-se ainda: o nome “Madalena” não aparece em nenhum sarcófago, e Mariamene podia ser nome de outra Miriam. Tudo frágil.

    3. No sarcófago atribuído a Jesus estariam as suas ossadas? Segundo afirmam os próprios cineastas, nesse sarcófago não havia ossadas, mas somente pó e alguns pequenos bocados, pelos quais se determinou a sequência do ADN de Jesus. Dado que a cripta era acessível a estranhos, não se pode garantir que ninguém, ao longo do tempo, não tenha introduzido ali outras ossadas, ou parte delas, por falta de espaço no cemitério. As ossadas que havia nos outros sarcófagos, segundo a lei, foram inumadas pelo IAA. Se estivessem nesse sarcófago as ossadas de Jesus, teria de se explicar como vieram ali parar, uma vez que se tem como certo, com base nos Evangelhos, que o primeiro sepulcro, o da rocha, foi encontrado vazio. Enfim, existe outro sarcófago, encontrado em 1926 e agora exposto no “Museu de Israel” em Jerusalém, que tem exactamente a mesma inscrição que o sarcófago de Talpiot: “Jeshuah, filho de Yosé”. O sarcófago de “Tiago, filho de Yosé, irmão de Yeshuah” foi considerado pelo IAA como uma falsificação propositada. Temos então estes dados: estava vazio o sepulcro escavado na rocha, mas o local desde cedo foi venerado pela Comunidade cristã local; no sarcófago para onde normalmente iam as ossadas, aquele que se encontrou como podendo ser sarcófago de Jesus, não tinha ossadas- somente uns restitos; apesar da inscrição, não há certeza absoluta de que outros restos que não eram de Jesus, por falta de espaço no cemitério, não tenham sido metidos ali, dado que a cripta foi, durante pelo menos duas gerações, frequentada por estranhos; o corpo do defunto Jesus, depois que as mulheres-discípulas o prepararam e embalsamaram, nunca ninguém o viu nem encontrou. Também ninguém assistiu ao fenómeno da transição do corpo de Jesus para novo tipo de vida, e nunca a pregação dos Apóstolos se preocupou com tal género de explicações. Anunciavam somente: está vivo, pelo poder de Deus que o “glorificou” e o “constituiu Messias”, e disso somos testemunhas visuais, por termos convivido com Ele, “depois da sua ressurreição dos mortos”. Em vez de dizer “Jesus ressuscitou”, Mc.16.6 põe na boca do anjo do sepulcro a expressão –“Jesus? Foi ressuscitado” (sentido literal do texto grego). Qual o significado de tudo isto? O que é dito é que Deus interveio, ressuscitando Jesus (não como re-animação, mas colocando-o numa condição corporal nova, com um corpo onde o poder do Espírito Santo “fez brilhar a glória de Deus”).

    4. Para a questão do túmulo de Jesus, há um dado do século IV que não pode ser ignorado, e que o vídeo e livro dos cineastas-investigadores não consideram. Está registado por Eusébio de Cesareia ( o primeiro historiador da Igreja) que em 326 a mãe do Imperador Constantino, Santa Helena, foi em peregrinação à Terra Santa, onde visitou e adornou os lugares que a Comunidade local dizia terem relação com Jesus; ela fez edificar um templo em Belém, sobre a gruta da Natividade. Mais: como os cristãos veneravam os lugares da crucifixão de Jesus, o imperador Adriano mandara terraplanar o espaço, fazendo um terraço e colocando lá um templo a Júpiter e outro a Vénus-- dois templos pagãos. Santa Helena fez escavar o local, e ficaram a descoberto o morro da crucifixão (onde se encontraram três cruzes), e o que o povo, que conhecera o local, identificou como o local do sepulcro de Jesus. Foi aí que, em 328, o Imperado Constantino fez edificar a basílica do Santo Sepulcro, sobre a rocha em que o túmulo de Jesus fora escavado. Depois de S.ta Helena, foi lá em peregrinação o grande tradutor da Bíblia (do hebraico e do grego para latim) que foi São Jerónimo. Deixou nos seus escritos uma descrição de uma “igreja da Ressurreição”, que já existia e que visitou. Iam consigo três amigos, entre eles uma senhora de nome Paula. O grupo foi depois ver os monges dos desertos do Egipto, e, voltando à Palestina, quiseram começar em Belém e Jerusalém uma vida de monges, à maneira dos do Egipto. A experiência não teve continuidade. O certo, e que S. Jerónimo conta, é que visitaram a igreja da Ressurreição, no lugar da primeira sepultura de Jesus, segundo dizia a Comunidade local (está-se então na 1ª metade do século IV). Estas tradições antigas e locais são de ter em conta. Ora, de entre estes primeiros peregrinos (e a peregrinação à Terra Santa cedo se tornará comum), há um famoso relato de viagem de uma cristã de Roma chamada “Ethéria”, do século IV. Nem ela nem Jerónimo, nem nenhum visitante cita qualquer cripta ou sarcófago de Jesus, até à chegada dos cineastas da National Geographic Society. Quer isto dizer que podemos acolher o conselho do Bispo Auxiliar de Jerusalém: não se impressionar com a campanha ainda em curso, e celebrar pacatamente, em fé e alegria, a Páscoa de Jesus, da Igreja e de cada cristão.
    P. Manuel Gonçalves, CSSp.

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