FILOSÓRFICO

domingo, fevereiro 25, 2007

À SORTE E À MORTE ...
( recomendado contra insónias )
#
É norma prudente e velha,
proposta por sábia gente,
que se olhe a sorte de esguelha
e encare a morte de frente.
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Se o Homem fosse macaco,
teria bem melhor sorte:
- não dava voltas ao caco
e não pensava na morte ...
#
Os homens fogem à morte
como o diabo da Cruz.
A morte apanha-os à sorte
e, a cada um ...catrapuz !
#
Desde o berço até à morte,
que andamos nós a fazer ?
A correr atrás da sorte
que connosco há-de morrer !
#
Vai a sorte à nossa frente
como a sombra, na corrida.
À morte, volta-se a gente
- e vê que foi sombra a vida.
#
No mar revolto da sorte,
meio mundo anda perdido,
a olhar a estrela da morte
à procura do sentido.
#
Mesmo gozando da sorte
de ter quanto o mundo dá,
quem não se lembra da morte
anda sempre ao deus-dará .
#
Quem me dera ter a sorte
de conhecer o futuro:
- subir ao muro da morte,
olhar por cima do muro ...
#
Se alguém morre, lembra a sorte
que nos espera. E, assim,
quem sofreu a sua morte
sofreu-a também por mim.
#
A nossa vida é pequena,
mas Deus dá-nos outra em sorte:
- temos a morte por pena,
mas não a pena de morte ...
#
Fiz estas quadras, à sorte,
na cama, para dormir.
Se vinha o sono da morte,
muito me havia de rir !...

domingo, fevereiro 18, 2007


quarta-feira, fevereiro 14, 2007

OLÉ !!...


EDITAL


A morte de touros na arena ou para consumo encontra-se já autorizada em locais licenciados para o efeito, desde que executada segundo a arte e técnica consagradas para a especialidade.

Torna-se público que a morte, pelas grávidas, de filhos menores de dez semanas de gestação, passa a beneficiar de idêntico regime, que vigorará por tempo indeterminado até ao regresso da civilização.


( a ) Assinatura ilegível

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

OS ANEXOS DA GRÁVIDA

O ilustre geneticista Mário de Sousa, médico pelo “sim”, entra em palco no Jornal de Notícias de 25 de Janeiro último.

Começa por reconhecer que “ (...) é facto científico que a nova vida [humana] inicia-se na fecundação.”

Sobrepõe depois uma capa de filósofo, e com um passo de mágica, tira o coelho da cartola:

I
( para quem gosta de pensar )


Todavia – acrescenta ele – essa nova vida, até aos cinco meses, não passa de um “esboço”, de “um anexo da mãe sem autonomia”, porquanto não desenvolveu ainda certas das suas potencialidades, tais como o funcionamento do pulmão (sic), a segregação de hormonas pela tiroide, o amadurecimento do cérebro, a formação de válvulas no coração de modo a conduzir o sangue a toda a parte.

De modo que, para ele, pelos vistos, a nova vida, até aos respectivos cinco meses de gestação, não é ainda uma vida em condições, não é ainda um ser humano propriamente dito, ou é um ser humano incompleto, embora tenha de “ter estatuto e dignidade e ser protegida.”

Esta de um determinado ser vivo em desenvolvimento não ser aquilo que é enquanto não atingir certa fase do seu desenvolvimento é digna de primeiro prémio na antologia dos ilogismos ! Um batateiro não é batateiro enquanto não der batatas !

Salvo se ele considera que essa vida que começa na concepção, é uma vida não humana e, apenas uma vida ( como dizer ? )...surrealista.
Mas porquê surrealista só até cinco meses ? Eu escolheria antes a puberdade. Até lá falta ao dito ser vivo uma característica de todo o ser vivo: a capacidade de reprodução...


II

( para quem pensa facilmente )


“Anexo”, “falta de autonomia” , porquê ?

Porque vive unido à mãe ? Porque vive “parasitando” o corpo dela ?
Assim permanece até aos nove meses e não durante cinco...
E que tem isso a ver, com diversa natureza ou dignidade ?
Duas crianças que nascem unidas por alguma parte do corpo – e, nesse sentido, não autónomas – não são seres humanos como quaisquer outros ?

E que tem a ver parasitagem com falta de autonomia, de identidade própria ? Inúmeros seres sobrevivem parasitando outros seres vivos, do nascimento à morte, sem que, de modo algum, com eles se confundam. A começar pela lombriga...


III
( para quem vê logo, quase sem pensar )


Mas a mais clamorosa incongruência do médico em causa, porque entre aquilo que sustenta e aquilo que irá fazer, reside nisto:

- Por um lado, sustenta que o embrião deve “ter estatuto e dignidade e ser protegido.”
- Por outro vai votar favoravelmente uma lei que lhe recusa toda a protecção, todo o direito, qualquer estatuto, qualquer dignidade, tratado juridicamente como uma coisa, de que a mãe pode dispor a seu livre alvedrio, tal como dispõe de qualquer móvel que prefira conservar ou lançar fora !

Reserva o estatuto para os embriões de laboratório ?